Prezado/a/os/as senhor/a/es/as,
A gente não se conhece, mais eu acredito que temos algo importante
em comum, uma meta que nos guia nas nossas vidas profissionais e, talvez,
pessoais, também. Fomos tocados pela
compaixão e a sensação de solidariedade que decorre dela. Manifestamos-a no nosso trabalho no campo de
HIV/Aids.
Estou escrevendo porque eu e os meus colegas queríamos pedir ajuda na
divulgação dos questionários de uma pesquisa de comparação cultural Brasil-EUAs
sobre suporte social, traços
psicológicos positivos e qualidade-de-vida em HIV/AIDS.
Permita-me apresentar brevemente para vocês o projeto, as nossas
finalidades, e quem somos.
Introdução
Eu sou Matthew Porter, professor de psicologia da Alliant International
University em San Diego, Cálifornia, nos EUAs.
Estou aqui no Brasil a fazer uma pesquisa sobre o resiliência e
ajustamento psicológico das pessoas vivendo com HIV/Aids (PVHAs), juntamente
com colegas acadêmicos brasileiros, principalmente no Instituto de Medicina
Social da UERJ. Para recrutar participantes para o projeto, estamos procurando
a ajuda de pessoas-chaves que, pelo trabalho, tenham bastante contato com a
população, aliás ativistas, diretrizes de ONGs e outros grupos de advocacia
e/ou apoio, médicos, psicólogos, assistentes sociais, prestadores de outras
formas de atendimento (clínico, social e/ou político), ou pessoas fazendo qualquer
outro papel que ganhe a atenção de “pessoas vivendo”. E estimamos que, pelo seu trabalho e
reputação, você talvez seja uma dessas “pessoas-chaves”.
O nosso projeto ganhou uma bolsa Fulbright e a aprovação do CONEP,
(Conselho Nacional de Saúde). Estimamos
que ele possa criar novos conhecimentos na psicologia da saúde e na saúde
pública que possam melhorar o apoio psicossocial fornecido ás pessoas com
HIV/AIDS no Brasil e no mundo. Queríamos
brevemente lhe apresentar o projeto na esperança de interessar-lhe nele, para
você nos ajudar a divulgar os nossos questionários ás pessoas soropositivas nas
suas redes formais e informais.
O projeto
A pesquisa é formalmente intitulada “Autorregulação da resiliência e do ajustamento
em pessoas vivendo com HIV/Aids ”, e informalmente "Projeto Corações Fortes". A pesquisa é financiada juntamente pelos
governos americano e brasileiro, por meio de uma bolsa do Fulbright voltada a
promover a colaboração acadêmica internacional, e foi aprovada pelo Comité de
Ética em Pesquisa do Instituto de Medicina Social da UERJ e pela Comissão
de Ética em Pesquisa do Conselho
Nacional de Saúde, Brasilia.Trata-se do braço brasileiro de uma modesta
pesquisa internacional (EUA-Brasil) que visa aproveitar a sobreposição de
similaridades epidemiológicas nas diferenças socioculturais que existem entre
os dois países. As questões centrais da pesquisa visam
esclarecer o papel potencial da diversidade das formas de apoio social, e da
psicologia positiva na resiliência e qualidade-de-vida das pessoas vivendo com
HIV/AIDS no Brasil e na capacidade das mesmas de transformar adversidade em
evolução.
Justificativa. Em HIV/AIDS, o Brasil
e os EUAs têm uma semelhança histórica crucial, em que ambos começaram a fornecer, de
graça (embora imperfeitamente), acesso universal ao tratamento antirretroviral
eficaz (TARV), no mesmo ano, 1996, e não somente isso, mas ambos vem
desfrutando, historicamente, de um alto nível de ativismo em favor dos direitos
sociais e medicais das PVHAs. Porém, as
culturas dos dois países tendem a ser bastante diferentes, particularmente na
valorização e configuração das relações sociais e familiares, e na abordagem do
indivíduo para a espiritualidade ou religião.
Suporte social e religião/espiritualidade já apresentaram, em outras
pesquisas antecedentes, grande influência na saúde e qualidade-de-vida das
pessoas vivendo com doenças crônicas. Elas
interessam aos pesquisadores do presente projeto, não somente pelas observações
já relatadas na literatura, nem somente por tudo que vimos nas nossas práticas
clínicas, mas pelo fato que são maleáveis:
esperamos que os achados dessa pesquisa possam futuramente ser
proveitosos no desenhar de novas intervenções psicossociais, baseadas nos novos
conhecimentos.
Aplicamos a teoria de autorregulação de doença do Howard Leventhal à
questão do enfrentamento á doença das PVHAs no Brasil e nos EUAs. Interessamo-nos particularmente nos efeitos
moderadores potenciais do suporte social (ou do isolamento) e da religião e/ou espiritualidade(inclusive
formas informais ou não-convencionais destas) no bem estar, qualidade-de-vida,
e nas trajetórias de desenvolvimento psicológico-filosófico das PVHAs. O Brasil
é um ótimo contexto para o nosso grupo aprofundar essa busca de conhecimento
pois as configurações sociais e familiares tendem a ser bastante diferentes
aqui no Brasil do que nos Estados Unidos.
Metodologia e estudos de piloto. A metodologia do projeto consiste em duas partes: qualitativa e quantitativa. Os dados qualitativos estão sendo coletados a
través entrevistas e serão sujeitos a codificação e análise temática fenomenológica. Os dados quantitativos serão coletados com
instrumentos (questionários de autorrelato) validados paralelamente no Brasil e nos EUAs, e sujeitos
a analise estatística de modelagem hierárquica linear.
Nos estudos de piloto quase todos os participantes falaram que gostaram
muito da experiência de ter participado.
Aqueles que tinham achado que o processo ia ser um pouco intrusivo
acabaram falando que não foi, e que até os assuntos mais delicados foram
abordados de uma maneira compreensiva, respeitosa e compassiva. Muitos falaram que a fato de participar do
projeto forneceu-lhes uma oportunidade não somente para contribuir algo de
muito valor, algo que só eles têm, que eles lutaram para ter, para uma
finalidade sócio-humanitária maior (um ato que muitos acharam gratificante), mas
também para repensar e revisar construtivamente os seus passados, presentes e
futuros.
Finalidades e divulgação dos achados. Além de contribuir para a teoria cientifica do enfrentamento á doença
crônica, o projeto visa gerar novos conhecimentos que possam ajudar-nos, os
fornecedores de apoio psicológico, psicossocial e de advocacia ás PVHAs, concretamente,
a aprimorar os nossos serviços nessa época de sobrevivência mais longa mais
qualidade-de-vida ainda inconsistente. Os
focos do projeto (integração social, espiritualidade, autocompaixão) são, no princípio,
áreas suscetíveis á modificação por meio de novas intervenções
psicossociais.
Assim, os achados serão divulgados para o público clínico e científico
na forma de artigos a serem publicados em jornais acadêmicos lidos
internacionalmente e apresentações em congressos no Brasil e fora. O nosso equipe de pesquisador já publicou pesquisas
antecedentes no Journal of the American Medical Association (JAMA), no
Transcultural Psychiatry, no International Journal of Aging and Human Development e nos Archives of Behavioral Medicine, e apresentou pesquisas para um leque de
congressos acadêmicos, incluído a Society for Behavioral Medicine, a
Gerontological Society of America, a Association for Contextual and Behavioral
Science. Nós queríamos que um público
semelhante tenha acesso aos resultados do presente trabalho para fazer uma
contribuição positiva à estrutura que apoia o bem estar das pessoas
soropositivas no Brasil, nos EUAs, e no mundo.
Igualmente importante será a divulgação dos nossos achados diretamente,
e em uma forma popularmente acessível, ás pessoas vivendo com HIV/AIDS,
particularmente àquelas que terão participado do projeto. Assim fechamos o círculo e deixamos os nossos
participantes gratificados em saber o que foi, realmente, que o seu tempo e
abertura permitiram a gente criar. O
nosso grupo planeja publicarum relato pequeno, ou, dependendo dos nossos
resultados, uma seria de relatos pequenos (“relatinhos”) escritos em um
português facilmente entendido, até por alguém que não tenha formação nas ciências
sociais, traçando os achados mais interessantes e práticos. Planejamos divulgar os relatinhos por meio do
nosso site, a ser criado, e por email mandado diretamente para os participantes.
Próximos passos. Estamos neste
momento buscando em volta de 140 mulheres e homens soropositivos acima de 17
anos de idade para preencher um conjunto de questionários que leva em volta de
50 minutos, mais ou menos, para completar.
Podemos ajudar aqueles que não sejam alfabetizados ou que precisem de
apoio. Uma vez que entrarmos em contato,
fazemos uma triagem breve e, no caso de elegibilidade e interesse para
participar, encaminhamos para o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, e,
depois disso, os questionários. Respeitamos muito a questão da privacidade das
pessoas. Usando as técnicas atualmente aceitas
nas ciências sociais, toda informação pessoal divulgada pelo participante será
meticulosamente anonimizada e armazenada para proteger o sigilo total da pessoa
antes de mais nada. Dependendo do caso, o projeto também
poderá reembolsar para o participante custos razoáveis que sejam decorrentes da
participação.
Pedido
Aqui peço uma ajuda sua para identificar pessoas, que possam se
interessar em participar, para divulgar ás mesmasum pouco sobre a natureza do
projeto, e encorajar-lhes a participar.
Aqui no Brasil, muito só acontece de boca a boca, de alguém conhecido e
de confiança. E é isso um grande
obstáculo para a realização do projeto: o fato de eu ser estrangeiro,
desconhecido, cientista social, e pior ainda: psicólogo, pode prejudicar a
vontade das pessoas para participar.
Esperamos muito que com essa modesta apresentação tenhamos conseguido
lhe(s) convencer não somente do valor conceitual e metodológico do projeto e da
sua finalidade, mas também da autenticidade do nosso desempenho. Esperamos também que você queira, possa e vá nos
ajudar.
Tem muitas opções para apoiar esse projeto. Pode pôr-nos diretamente em contato com
clientes, pacientes, membros, colegas, amigos--encorajando estes para eles
participarem com a gente. Podedivulgar o
link a nosso site de participação virtual, também com palavras positivas para
encorajar as pessoas. Pode até você
administrar os questionários ás pessoas que você conheça, na ausência do time
de pesquisa...ou qualquer outro tipo de ajuda com o recrutamento que seja
conveniente. Estamos precisando muito da
sua ajuda, e muito dispostos a facilitar o seu desempenho do mesmo. Queremos nos adaptar, na medida possível, ás
suas necessidades, para adiantar esse trabalho, achando que talvez exista um
sinergismo entre os nossos interesses.
Sabemos que você valoriza muito a questão de qualidade-de-vida com
HIV/AIDS, e esperamos que você ache o nosso projeto algo que possa ajudar nessa
área.
Por qualquer ajuda ou conselho seremos realmente muito agradecidos.
Rio de Janeiro, 8 de abril de 2016
Matthew Calvin Porter,
Ph.D.
Professor Associado
Alliant International
University
San Diego, Califórnia,
EUAs.